Incentivo de médico faz mulher parar de fumar depois de 23 anos
Uma tragada hoje, outra amanhã. Os amigos fumam e a pessoa passa a achar uma boa ideia para se sentir mais sociável. É quase sempre assim a história dos fumantes que, quando veem, estão há anos inalando uma fumaça que conta com mais de 4.720 substâncias tóxicas, sendo 43 delas cancerígenas e que podem trazer problemas graves para a saúde. Parar de fumar é a melhor opção e é um desafio possível de superar.
Há seis anos sem fumar, a administradora Simone Ferreira, 44, teve o cigarro como companhia diária dos 15 aos 38 anos. “As amigas da escola fumavam e eu achava lindo. As propagandas na TV eram todas com mulheres bonitas, então fumei porque achava tudo lindo e perfeito, um charme a mais.”
O vício a fez fumar mais de oito mil maços de cigarro, atitude que poderia ter custado sua vida. O que a motivou parar com o cigarro, no entanto, foram as palavras encorajadoras de um médico.
“O verdadeiro motivo da minha parada com o tabaco foi o incentivo de um médico. Havia feito meus exames e estava tudo normal, mas ele disse que eu tinha todo perfil de uma mulher forte e decidida e que poderia fazer um esforço em parar de fumar, ou seja, ele massageou meu ego. Usei medicamento para parar, aliado a muita água gelada e força de vontade”, comemora ela.
Depois do início do tratamento com remédio, Simone não colocou mais nenhum cigarro na boca. Ela relata, porém, que sofreu bastante para lutar contra o vício nos sete primeiros dias. Nervosismo, irritação, fome e inquietação a acompanharam por mais tempo, mas a primeira semana ainda contou com dores de cabeça e boca seca. “Mantive o foco e a determinação”, comemora.
Com três meses foi perdendo o hábito de buscar o cigarro. “Além de oração pedindo força a Deus, bebia água gelada, chupava gelo, comia cenoura crua, usava bala e chiclete sem açúcar e cravo”, conta. “E suportava um dia por vez. Falava para mim mesma: ‘preciso vencer somente hoje’. Todo dia eu repetia isso.”
Até um ano, a luta que Simone enfrentou foi dura. A aversão ao tabaco só veio dois anos depois. “Hoje eu tenho nojo do cheiro, mas vem lampejos de fumar e a boca enche de água. Mas depois passa”, conta.
Simone acredita que a luta contra o vício será para sempre. “É uma mistura de amor e ódio. Digo sempre que o cigarro foi meu maior amor, mas me deu trabalho.”
O esforço, porém, foi recompensado, já que ela hoje ela sente menos cansaço, a respiração melhorou, a pele está mais hidratada, as unhas mais fortes, os dentes clarearam gradativamente e o cabelo ficou mais cheiroso.
Cigarro é coisa séria
O pneumologista do Hospital 9 de Julho Alexandre Kawassaki explica que abandonar o cigarro sempre vai trazer benefícios à saúde. “As pessoas que já estão doentes reduzem a gravidade da doença quando param de fumar e têm uma resposta melhor ao tratamento, mesmo que seja de um câncer em estado avançado. Além disso, reduzem os efeitos colaterais da quimioterapia ou radioterapia”, conta.
O especialista comenta que quanto mais cedo parar, maior é o aumento da expectativa de vida, já que o cigarro é capaz de tolher 12 anos da vida de quem começa a fumar ainda jovem.
Abandonar o vício, porém, exige muita força de vontade, psicoterapia e até mesmo auxílio de medicações. “A chance de um fumante parar de fumar sem ajuda nenhuma é de 2% por tentativa. Quando associamos um remédio, essa chance aumenta para 30%”, comemora.
Adesivos, pastilhas ou gomas de nicotina e medicações orais fazem parte do arsenal de tratamento ao alcance dos médicos. É possível também usar a psicoterapia para aumentar a chance de parar com o cigarro.
O psicoterapeuta Samir Aniz Mourad, da Equilybra Psicologia, explica que a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das melhores para ajudar nesse processo de abandono do vício.
“A TCC vai tratar os sintomas, aquilo que acontece na hora e faz com que você fume. A terapia vai ajudar a pessoa a evitar certos comportamentos que levam ao cigarro, mas é preciso que ela tenha força de vontade”, explica.
A terapia é importante para fazer o tabagista entender que precisa passar longe dos comportamentos que, outrora, pediam um cigarro. Se a pessoa tem o hábito de fumar enquanto toma cerveja com os amigos, é preciso parar de frequentar esses encontros até que tenha superado o vício, pois pode ser um gatilho para acender um cigarro.
“Nós temos manias, situações que fazem com que a gente procure algo. Se a pessoa tem o hábito de fumar enquanto dirige, mas não pode parar de dirigir, precisa trocar os pensamentos e substituir o cigarro por uma bala, por exemplo. A TCC trabalha a questão do treino e vai fazer com que o fumante se organize e treine comportamentos diferentes.”
Outra dica é mudar a rotina. Se a pessoa sempre acorda, pega um café e acende um cigarro, isso precisa ser alterado.
“Vamos acordar, tomar um banho e deixar o café para depois do almoço. Com isso a gente corta o gatilho do cigarro naquele momento e o organismo passa a se acostumar sem ele na rotina”, diz o psicólogo.
Fonte: Coração & Vida